FísicosLX

domingo, novembro 28, 2004

Vitríolo, éter e gás hilariante (ih! ih! ih!)

"O primeiro e importante avanço no desenvolvimento da anestesia foi a descoberta feita em 1275 pelo famoso alquimista catalão Raimundo Lúdio (Ramon Llull), de que o vitríolo (ácido sufúrico concentrado) misturado com álcool e destilado resultava num fluido branco e doce. Ao princípio, Lúlio e os seus contemporâneos chamaram ao fluido vitríolo doce; mais tarde recebeu o nome de éter. Um grande futuro estava reservado a esse simples composto químico, embora tivessem de passar seis séculos até se descobrir o seu destino.

"Em 1605, o famoso alquimista Paracelso, um médico suíço, utilizou o éter para aliviar a dor. Era médico, mas não cirurgião, de maneira que não pôde inventar a anestesia cirúrgica. Depois de o experimentar em animais, no entanto, administrou éter a pacientes em grande sofrimento. Espantosamente, só em meados do século XIX é que alguém voltou a lembrar-se de usar éter para aliviar dores.

"Outro grande avanço foi feito pelo químico inglês Joseph Priestley, em 1772, ao descobrir o óxido nitroso, mais tarde chamado gás hilariante. Priestley não reconheceu o óxido nitroso como agente anestésico, mas fez uma série de outras descobertas incrivelmente importantes, incluindo a existência do oxigénio e do monóxido de carbono. (...)

"Depois de Priestley, a «medicina pneumática» (medicação por inalação de vários gases) que ele ajudara a fundar tornou-se uma espécie de moda em Inglaterra. Um dos seus principais expoentes foi Thomas Beddoes, o médico e químico de Berkeley (...). Beddoes, liberal como Priestley, foi obrigado a abandonar o seu lugar de docente de Química em Oxford. Em 1794, viajou para Bristol, onde abriu um Instituto de Medicina Pneumática. Quatro anos mais tarde, nomeava seu superintendente Humphrey Davy, um brilhante cirurgião e químico, de vinte e dois anos.

"A juventude de Davy fora semelhante à de Jenner [inventor da vacina contra a varíola], pois os maus resultados escolares fizeram-no abandonar os estudos aos treze anos. Sem as habilitações para estudar para médico, tornou-se aprendiz dum cirurgião farmacêutico. Durante a sua aprendizagem, desenvolveu enorme interesse pela química, aprendendo essencialmente sozinho. Foi ele quem introduziu o termo gás hilariante para o óxido nitroso, depois de o inalar aos dezassete anos, sentindo-se tão divertido que desatou a rir à gargalhada. (...)

"Vários químicos americanos perceberam que a inalação dos anestésicos fazia as pessoas sentirem-se felizes e contentes. Como resultado, os químicos que os fabricavam organizavam «festejos de éter» e «festas de gás hilariante». Por acaso, o primeiro a utilizar éter como anestésico dental foi um estudante de Química, William E. Clark, que já assistira e participara em reuniões do género. O seu dentista era o Dr. Elija Pope, e Clark sugeriu-lhe um dia que usasse éter para as extracções de dentes, calculando, sem dúvida, que uma risota só podia ajudar a esquecer a dor. (...)

"Pouco tempo depois do casamento [do médico Crawford Long, em 1842], vários jovens de Jefferson pediram-lhe que lhes fizesse óxido nitroso para as suas festas de gás hilariante. Long respondeu-lhes que o éter era igualmente bom e fez certa quantidade, que todos experimentaram. A boa disposição foi contagiosa, e os folguedos com éter depressa se tornaram moda em Jefferson e arredores.

"Durante esses divertimentos, Long fez uma observação de profunda importância. Após um episódio típico, apresentava nódoas negras dos movimentos feitos sob a influência do éter, mas não se lembrava de ter sentido alguma dor no momento em que elas tinham sido feitas. Quando um dos seus pacientes, James N. Venable, com operação marcada, por diversas vezes, para tirar dois quistos do pescoço, a desmarcou com medo das dores, Long lembrou-se das nódoas negras feitas sem dor. Então, convidou-o para uma das festas com éter, para ver se o éter não lhe fazia mal, e conseguiu convencê-lo de que o produto era inofensivo. No dia 30 de Março de 1842, o médico deitou éter numa toalha, fez Venable inalá-lo e viu-o ficar inconsciente. Retirou então um dos quistos, sem que o paciente sentisse qualquer dor. Quando ele recobrou a consciência, não acreditou no que acontecera, e Long teve que lhe mostrar o quisto para provar que já não o tinha. A experiência teve tal êxito que, nove semanas depois, o segundo quisto era removido da mesma maneira."

(in "Grandes Descobertas da Medicina", Meyer Friedman e Gerald W. Friedland, Círculo de Leitores)

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