"Quando é que o génio estará em casa para jantar?"
Um episódio passado no início dos anos 20, quando Albert Einstein vivia em Berlim com a sua segunda mulher, ilustra na perfeição o estatuto atingido pelo físico. Havia quem se lhe dirigisse directamente chamando-lhe génio. "A família recebeu a visita de uma artista estrangeira que veio para fazer uma escultura de Einstein. Estando vagamente familiarizada com a língua alemã, ela insistia em referir-se ao seu modelo como "der Genie" ("o génio")", relatam Michael White e John Gribbin no livro Einstein (Publicações Europa-América).
Tal tratamento só podia ter uma reacção: "Causou bastante divertimento na casa, onde Albert passou a ser conhecido pelo Génio. Quando é que o Génio estará em casa para jantar? O Génio teve uma boa sesta? Quando uma visita chegava para Einstein, era anunciada como uma visita para o Génio e ver-se-ia confrontada pelo riso do próprio Einstein."
Foi em 1919 que o autor solitário da teoria da relatividade, em 1905 (a restrita) e 1915 (a geral), atingiu o estatuto de génio. Tinha 40 anos. Ficou (realmente) famoso porque a observação de um eclipse solar, a 29 de Maio, confirmou a teoria da relatividade geral. Einstein acabava de destronar um dos maiores vultos da física, Isaac Newton, com uma melhor explicação do mundo.
Mas se o mundo só se apercebeu de Einstein em 1919, os cientistas reconheceram-lhe o valor pouco depois de 1905. Bastava a teoria da relatividade restrita, onde surgiu a ideia E=mc2, para ficar famoso. Só que naquele ano, Einstein escreveu cinco artigos científicos revolucionários. Num propunha a existência de fotões e explicava o efeito fotoeléctrico, o que lhe valeu o Prémio Nobel da Física em 1922. Outros dois eram sobre a existência das moléculas e dos átomos e os restantes dois sobre a relatividade restrita.
"Qualquer um desses artigos torná-lo-ia muito famoso; o conjunto fê-lo imortal", escreveu o físico Abraham Pais, no livro Os Génios da Ciência (Gradiva).
Para Pais, os artigos de 1905 resultaram de uma "criatividade explosiva" e é com frontalidade que considerou Einstein um génio. "Nem sequer sei o que é uma caracterização completa do que é um génio, excepto que é mais do que uma forma extrema de talento e que os critérios não são objectivos. Noto que o caso de Einstein causa menos celeuma do que o de Picasso e muito menos do que o de Woody Allen; deste modo declaro que, em minha opinião, Einstein era um génio", escreveu Pais em Subtil é o Senhor.
O neurologista Castro Caldas, da Universidade Católica Portuguesa, dá uma achega. "A criatividade é uma capacidade de resolver problemas fugindo das regras estabelecidas. Perante um problema, essas pessoas são capazes de descobrir uma forma nova de resolver um problema."
O reverso da criatividade pode ser a lentidão (e de facto Einstein matutava muito nos problemas, por exemplo andou oito anos a desenvolver a teoria da relatividade geral).
Teresa Firmino
(Público, 17/04/05)
Tal tratamento só podia ter uma reacção: "Causou bastante divertimento na casa, onde Albert passou a ser conhecido pelo Génio. Quando é que o Génio estará em casa para jantar? O Génio teve uma boa sesta? Quando uma visita chegava para Einstein, era anunciada como uma visita para o Génio e ver-se-ia confrontada pelo riso do próprio Einstein."
Foi em 1919 que o autor solitário da teoria da relatividade, em 1905 (a restrita) e 1915 (a geral), atingiu o estatuto de génio. Tinha 40 anos. Ficou (realmente) famoso porque a observação de um eclipse solar, a 29 de Maio, confirmou a teoria da relatividade geral. Einstein acabava de destronar um dos maiores vultos da física, Isaac Newton, com uma melhor explicação do mundo.
Mas se o mundo só se apercebeu de Einstein em 1919, os cientistas reconheceram-lhe o valor pouco depois de 1905. Bastava a teoria da relatividade restrita, onde surgiu a ideia E=mc2, para ficar famoso. Só que naquele ano, Einstein escreveu cinco artigos científicos revolucionários. Num propunha a existência de fotões e explicava o efeito fotoeléctrico, o que lhe valeu o Prémio Nobel da Física em 1922. Outros dois eram sobre a existência das moléculas e dos átomos e os restantes dois sobre a relatividade restrita.
"Qualquer um desses artigos torná-lo-ia muito famoso; o conjunto fê-lo imortal", escreveu o físico Abraham Pais, no livro Os Génios da Ciência (Gradiva).
Para Pais, os artigos de 1905 resultaram de uma "criatividade explosiva" e é com frontalidade que considerou Einstein um génio. "Nem sequer sei o que é uma caracterização completa do que é um génio, excepto que é mais do que uma forma extrema de talento e que os critérios não são objectivos. Noto que o caso de Einstein causa menos celeuma do que o de Picasso e muito menos do que o de Woody Allen; deste modo declaro que, em minha opinião, Einstein era um génio", escreveu Pais em Subtil é o Senhor.
O neurologista Castro Caldas, da Universidade Católica Portuguesa, dá uma achega. "A criatividade é uma capacidade de resolver problemas fugindo das regras estabelecidas. Perante um problema, essas pessoas são capazes de descobrir uma forma nova de resolver um problema."
O reverso da criatividade pode ser a lentidão (e de facto Einstein matutava muito nos problemas, por exemplo andou oito anos a desenvolver a teoria da relatividade geral).
Teresa Firmino
(Público, 17/04/05)
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