FísicosLX

domingo, setembro 05, 2004

Koshab

nocturlábio em selo


"Numa fase mais adiantada da navegação astronómica, recorreu-se à chamada roda da Polar, já utilizada pelo maiorquino Raimundo Lúlio (1233 ou 35-1315), quando, no fim do século XIII, descreveu o instrumento a que chamou astrolabii nocturni, mas que ficou conhecido por nocturlábio. Este instrumento, de que chegaram exemplares até aos nossos dias, foi o relógio nocturno, durante séculos. A sua leitura baseava-se no movimento de rotação da Ursa Menor (ou da Maior) à volta do pólo celeste, fenómeno a que já aludimos. Adaptada pelos Portugueses, a roda da Polar permitia, em qualquer lugar do hemisfério setentrional, saber a altura daquela estrela em Lisboa (todas as rodas que se conhecem são referidas a esta cidade), em função da guarda dianteira da constelação a que pertence. Deste modo, o observador podia fazer pontaria à Polar, quando mais lhe conviesse e sem que lhe fosse imposto um determinado momento.

Koshab
Para os pilotos dos Descobrimentos, a Estrela Polar descrevia uma circunferência com o raio de 3º.5.

Apresenta-se a roda das alturas da Polar publicada por Valentim Fernandes, em 1518, no seu Reportório dos Tempos. A figura, representando um homem de braços abertos, indicava a altura da Polar em Lisboa, conforme a posição da estrela b (Koshab), que é a guarda dianteira da Ursa Menor: cabeça ou pés, quando o rumo definido por ela era N ou S, braço esquerdo ou direito, para o rumo E ou W, assim como os rumos intercardeais que eram designados por ombro esquerdo (NE), linha acima do pé (SE), linha abaixo do braço direito (SW) e ombro direito (NW). O piloto dispunha de oito oportunidades para medir a altura da Polar (na realidade, só as que tinham lugar e eram visíveis durante a noite) e avaliar o caminho percorrido Norte-Sul.

Roda das alturas do Norte em Lisboa
Roda das alturas do Norte em Lisboa, in Reportório dos Tempos de Valentim Fernandes, 1518. Fundação da Casa de Bragança, Vila Viçosa.

Para o efeito fazia a diferença em graus e suas fracções, entre a altura em Lisboa, indicada na roda, e a altura observada, que multiplicava por 16 2/3 léguas (ou 17 1/2, como veio a ser usado), assim calculando a distância contada a partir daquela cidade." [Este método de navegação é também chamado Regimento do Norte.]

("Medir Estrelas", António Estácio dos Reis, CTT Correios de Portugal, 1997)

Mais uma vénia ao Comandante Estácio dos Reis, por este livro lindíssimo.

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