FísicosLX

quinta-feira, setembro 02, 2004

B.E.M.

A pessoa mais ilustre (classificação naturalmente subjectiva) com que tive oportunidade de ter um "tête-à-tête" foi a Professora Branca Edmée Marques, que foi aluna de doutoramento de Marie Curie. Na altura, eu tinha uns quinze anos, enquanto que ela tinha sido jubilada havia anos. Já estava em franca decadência intelectual, mas, mesmo assim, vi-me muito atrapalhada perante a honra. Só me consigo lembrar de ela me ter perguntado, porque lhe tinham dito que eu tinha boas notas, se queria ser professora. Com o preconceito em voga na altura, de que ser professor é "aturar os filhos dos outros" (na altura, era este o tamanho do preconceito), respondi que não.

Anos mais tarde, inesperadamente, ouvi um professor universitário referir-se à Professora Branca, de quem tinha sido aluno, a propósito de uma sua idiossincrasia: ela costumava preencher os quadros de um anfiteatro da Escola Politécnica na aula das oito da manhã, e depois deixava-o já escrito para a aula das nove, com outra turma mas com a mesma matéria. Depois, a referência obrigatória a Madame Curie. Finalmente, um "era uma boa professora". (Era um bom professor.)

Branca Edmée Marques está entre os cientistas e professores seleccionados para o livro comemorativo dos 90 anos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa ("Memórias de Professores Cientistas. Os 90 anos da FCUL, 1911-2001", Ana Simões, ed., 2001, FCUL, Lisboa). Faz parte da História. Pude mesmo ajudar uma estudante de doutoramento norueguesa que procurava informações sobre ela para a sua tese.

Quis um acaso que, depois da sua morte, me tivesse vindo parar às mãos um objecto pessoal da Professora. Tinha as suas iniciais escritas. (Às vezes, gostaria de acreditar em augúrios.)

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