Alimentar o "bichinho"
Por vezes encontro adolescentes que me dizem que gostam muito de Física. Em geral, têm muitas perguntas, sobre muitos assuntos, desde o Universo às centrais de fusão. Gosto muito de responder, na medida dos meus conhecimentos e da minha capacidade para traduzir "por miúdos" temas que conheci entre a aridez das fórmulas matemáticas.
Depois, perguntam-se se é boa ideia tirar um curso de Física. É difícil responder. Para garantir que as coisas não vão correr mal, seria preciso exigir, pelo menos, capacidades excepcionais, uma força de vontade inquebrantável, uma boa base de apoio financeira a nível familiar, e uma boa dose de sorte. O que exclui quase toda a gente. Hão-de ser precisos físicos no futuro. Mas como garantir que, daqui por dez ou quinze anos, a entrada numa carreira de investigação será mais fácil? Por outro lado, teremos o direito de matar o sonho a um jovem apenas por causa de algumas mágoas e de o nosso percurso ter sido tudo menos linear?
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e sabes mais?! o que a mim me assusta?! é ver como são tratados(eleborados) os programas de Ciência - Física, Química (mesmo estas parecem, mesmo até se "separarem" de costas voltadas) Matemática e as Ciências da Terra e da Vida, Biologia, Geologia! uma total incapacidade de regulação! a Física terá que ter sempre uma forte ferramenta matemática! mas...no Básico, e até mesmo no Secundário, não seria mais sensato e "largo de vistas" e motivador, aprender "essas coisas" que a divulgação ensina sem grande (ou nenhuma!) matemática?! e além disto, continuo a ver chegar à escola professores acabados de formar nas vias ditas de ensino, completamente com as cabeças feitas para ensinar segundo as "fórmulas"! uma formação tendo por base uma forte e efectiva (porque sabida e percebida e interiorizada) componente experimental e com saber de uma Física que vá além da Clássica, não vejo! muita "pedagogia" e pouca uva... e perdoa mas...saíu!
enviado por Fátima Santos em dezembro 17, 2004 4:33 da tarde
Curioso o pensamento do físico. Antes de dar a resposta pensa em tantas coisas, em tantas hipóteses quando a probabilidade de influenciares algo determinante, por ventura, será nula. Isto tentando aproximar-me da linguagem "fisicológica."
enviado por ldr em dezembro 17, 2004 11:07 da tarde
Daniel:
Não pensei em tantas coisas pela primeira vez quando me vieram perguntar, mas quando uma professora me disse que um aluno seu tinha entrado para a universidade para estudar física.
Perante uma pergunta concreta, e mesmo que não tenha qualquer influência no futuro, tenho sempre a responsabilidade de responder o melhor que sei, certo?
Mas não tenho tanta certeza de que a influência seja nula. É que pessoas com formação em física não se encontram com a mesma probabilidade com a que se encontram, digamos, pessoas com formação em direito. Por isso, é possível que as decisões "difíceis", contra a corrente, sejam influenciadas por relativamente poucas pessoas.
enviado por Aristarco em dezembro 18, 2004 7:10 da manhã
Desculpem remar contra corrente. A questão é que descobri, após 35 anos de engº electrotécnico da FEUP, que todo o progresso material ( e só falo desse porque do moral há pouco...) passa, Necessariamente, pelo conhecimento da matemática, física e química. Sem isto nada teria sido possível e viveriamos ainda nas cavernas. Por isso se quisermos uma sociedade dinâmica e progressiva temos de incentivar, por quaisquer meios, a opção dos jovens por aquelas áreas de conhecimento, o que não pode ser deixado ao sabôr do mercado de trabalho. Imaginem-se boas bolsas de estudo e casas de estudantes de qualidade para os que optassem por esses cursos. Poder-se-iam seleccionar candidatos de qualidade e, esta é a minha crença, o resto nos seria dado por acréscimo, no futuro, com enormes juros.
Infelizmente as perspectivas utilitaristas imediatas do dito ensino superior tem feito definhar a Universidade e a formação sólida de gerações sucessivas no nosso País, caminhando nós todos para a indigência científica e para a mediocridade. A Medicina capta os melhores porque à saída da licenciatura têm emprego.Ponto. Porque não se criam condições semelhantes nas áreas que referi ? Se o Estado investe na saúde porque não investe no vector essencial do desenvolvimento futuro ? Muito mais teria para dizer mas passo a palavra a quem quizer contraditar.
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enviado por Anónimo em dezembro 22, 2004 10:35 da tarde
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