FísicosLX

terça-feira, agosto 31, 2004

Medir estrelas

(Com uma vénia ao Comandante António Estácio dos Reis, que foi quem me fez perceber, de uma assentada, como é simples a utilização do astrolábio náutico e da balestilha.)

quadrante em selo


"A navegação fazia-se então no Mediterrâneo e no Atlântico, com suporte costeiro, pelo método de rumo e estima, isto é, usando os rumos da agulha de marear e estimando as distâncias percorridas.

"Todavia, em meados do século XV, no seu trajecto ao longo da costa africana, os pilotos portugueses verificaram que as viagens para o Sul se faziam com ventos de feição, enquanto o regresso se tornava difícil, por vezes impossível, devido a ventos contrários. Para tornear essa situação, passou a fazer-se a 'volta pelo largo', que passava pelas proximidades dos Açores, o que tornava as viagens de regresso bem mais longas em caminho percorrido, mas mais curtas em tempo e mais cómodas para as tripulações.

"A volta pelo largo, ou volta da Mina ou da Guiné, como também se apelidava, impedia que se determinasse a posição do navio pelo reconhecimento da costa, como até então se fazia.

"Para superar esta dificuldade, recorreu-se aos astros, em primeiro lugar à Estrela Polar. A sua altura media-se, usando o quadrante, por exemplo, à saída de Lisboa, e registava-se-lhe o valor no próprio instrumento. Depois, ao navegar-se um ou mais dias, ou no porto seguinte, media-se novamente a altura da Polar. A diferença entre estas alturas, convertida em léguas, que era, na época, a unidade de distância usada no mar, dava o caminho percorrido Norte-Sul. A unidade de conversão, a primeira a ser usada pelos pilotos portugueses, foi de 16 2/3 léguas por grau. Mais tarde, por volta do fim do século, utilizou-se a relação de 17 1/2 léguas por grau.

"Esta fase da navegação astronómica deduz-se da leitura da Relação do Descobrimento da Guiné, quando do achamento da ilha de Santiago, em Cabo Verde, por Diogo Gomes, cerca do ano de 1460. Ali se afirma: 'E eu tinha um quadrante, quando fui a estes países, e escrevi na tábua do quadrante a altura do pólo ártico.'

"O método exigia que o piloto fizesse pontaria ao astro, com este sempre na mesma posição no céu, sendo ajudado pela constelação da Ursa Menor de que a Estrela Polar faz parte e que, na época, descrevia em torno do pólo uma circunferência com o raio de 3º.5. O inconveniente deste procedimento era obrigar o piloto a fazer a observação, em cada noite, num determinado momento, o que nem sempre era possível, devido ao céu estar encoberto."

("Medir Estrelas", António Estácio dos Reis, CTT Correios de Portugal, 1997)

Ouvir estrelas

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao virar do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

(Olavo Bilac)

segunda-feira, agosto 30, 2004

Lunação (de António Cidadão)

lunação

Uma das imagens que mais gostei de ver na página Astronomy Picture of the Day, e que ontem teve um bis, foi esta montagem de fotografias da Lua ao longo de uma lunação (aproximadamente 29,5 dias), do astrónomo amador português António Cidadão, que mostra um fenómeno denominado libração.

Conseguimos ver um pouco mais do que metade da Lua por duas razões. Em primeiro lugar, a órbita da Lua em torno da Terra não está no plano do equador da Terra, havendo um ângulo de 5,1 graus entre os dois - isso explica que consigamos "espreitar" um pouco mais, em cima e em baixo. Por outro lado, há uma variação da velocidade do movimento de translação da Lua em torno da Terra, fruto da primeira e da segunda leis de Kepler (órbitas elípticas e áreas iguais em tempos iguais, respectivamente), o que nos "atrasa" ou "adianta", relativamente ao nosso satélite - e isto explica que consigamos "espreitar" um pouco mais à direita e à esquerda.

Entre o alfa e o ómega

Um dos "efeitos secundários" de se aprender física (e matemática e, talvez, química) é que, involuntariamente, se aprende a ler... grego. Se não, como explicar a familiaridade com os rótulos poliglotas da manhã de 'gala' - leite, em grego e de 'café' em grego?

sábado, agosto 28, 2004

Apostas sobre a Física até 2010

dado

Durante duas semanas, aceitam-se apostas sobre o que se descobrirá, em Física, até 2010, nas seguintes áreas: vida em Titã, ondas gravitacionais, o bosão de Higgs, as origens dos raios cósmicos e a fusão nuclear.

Palpites...?

sexta-feira, agosto 27, 2004

O planeta de 14 massas terrestres que orbita μ Arae

velocidade radial de mu Arae
Gráfico do preprint de Santos et al. (2004), sobre a descoberta de um planeta com 14 massas terrestres que orbita μ Arae (HD 160691). O planeta tem uma órbita de 9,5 dias, e encontra-se a uma distância da estrela de 0,09 AU. Provoca alterações na sua velocidade radial com uma amplitude de cerca de 4 m/s. É o segundo planeta descoberto no sistema e pensa-se que poderá ter um núcleo rochoso.


A velocidade radial de uma estrela é a sua velocidade de aproximação ou afastamento de nós, na direcção radial. (Há ainda o movimento próprio, que corresponde à alteração das coordenadas da estrela no céu.) Quando um planeta orbita uma estrela, a velocidade radial desta é alterada de forma periódica, porque a estrela orbita o centro de massa do conjunto.

Monitorando a velocidade radial das estrelas é, então, possível detectar a presença de planetas na sua órbita. Há várias limitações: o método só permite detectar alterações relativamente grandes às velocidades radiais e, portanto, planetas de grandes dimensões e próximos das suas estrelas. Os outros planetas, pequenos ou afastados da estrela, podem estar lá, mas não são detectados. Além disso, o plano da órbita dos planetas não fica completamente determinado, pelo que também a massa do planeta fica conhecido a menos de uma constante desconhecida (o seno de um ângulo, portanto, um factor entre 0 e 1). Como consequência, com este método apenas é possível determinar o valor mínimo da massa dos planetas.

Há uma lista (não actualizada) dos planetas extra-solares descobertos, acompanhada das curvas com a variação das velocidades radiais das suas estrelas, aqui.

Ver também o comunicado de imprensa do ESO sobre a nova descoberta.

quinta-feira, agosto 26, 2004

Descoberto o Primeiro Planeta Extra-solar Rochoso

Parabéns, Nuno Cardoso Santos!

quarta-feira, agosto 25, 2004

Descubra as diferenças

cores(1) cores(2)

terça-feira, agosto 24, 2004

Memória


No "site" da International Association of Athletics Federations, IAAF, sob o título "Three all time greats":

"Carlos Lopes (POR): An inspiration to more mature runners, he won the 1984 Olympic marathon at the age of 37 and the following year set a world best of 2:07:12." (Este tempo, para 42,195 km, corresponde a uma velocidade média de 19,9 km/h.)

Foi a primeira medalha de ouro portuguesa nos Jogos Olímpicos.

Citius

Obikwelu (3)

O europeu mais rápido e o sétimo homem mais rápido de sempre é português de adopção, "de coração". Em 22 de Agosto de 2004, nos Jogos Olímpicos de Atenas, correu os 100 metros em 9,86 segundos, apenas um centésimo de segundo a menos do que o vencedor. (Alguém tem o "photofinish"?) A sua velocidade média foi, portanto, 10,1 m/s ou 36,5 km/h. Francis Obikwelu, parabéns!

Admirável mundo novo II

Droga Torna Ratinhos Campeões da Maratona
[Público, 24/08/2004]

A física e a química nos jogos olímpicos

natação

Por um lado, os exemplos da natação e do ciclismo.

E outro artigo mais antigo, sobre outras modalidades, aqui.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Anisotropia criadora

Anisotropia da radiação cósmica de fundo - WMAP, 2003
Anisotropia da radiação cósmica de fundo - WMAP, 2003


TAPAS, O CALOR CÓSMICO

1. Ordem e verdade nasceram do calor quando este explodiu. Daqui nasceu a noite; desse calor nasceu o oceano encapelado.

2. Do oceano encapelado nasceu o ano, que ordena dias e noites, governado sobre tudo o que pestaneja.

3. O Ordenador colocou em local devido o sol e a lua, o céu e a terra, a dimensão intermédia do espaço, e por fim a luz do sol.


(Rig Veda, Índia, c. 1200 a.C., in "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro", Assírio e Alvim)

sábado, agosto 21, 2004

A política a duas dimensões

(inspirado em ligações do Adufe)

Não contentes com a tradicional divisão esquerda/direita, os americanos resolveram representar a posição política de um indivíduo ou de um partido num gráfico a duas dimensões. Nos dois eixos coordenados ficam, por um lado, a posição quanto à intervenção do estado na economia e, por outro lado, a posição quanto à intervenção do estado nas liberdades individuais.

No gráfico resultante surgem as regiões dos: "centrist", "left (liberal)", "right (conservative)", "statist (big government)" e "libertarian". Ou, falando de extremos: "communism (collectivism)", "neo-liberalism (libertarianism)", "fascism" e "anarchism".

Há dois testes simples para quem quiser "situar-se": o World's Smallest Political Quiz e o Political Compass.

Os gráficos:

Áreas políticas


Mapa político com extremos


Mapa internacional com dirigentes



Num hemiciclo, o segundo eixo poderia ser representado pela distância ao centro, como nas coordenadas polares...

Haveria outra ou outras dimensões a considerar? Ou já são divisões a mais?

Pergunta de algibeira

A soma de todas as cores dá branco ou preto?

sexta-feira, agosto 20, 2004

O paradoxo de Zenão

Paradoxo de Zenão

Alcança Aquiles a tartaruga?

(Quem conhece o efeito de Zenão quântico?...)

Wish upon a star


Perseidas. Clique para ler explicação
Radiante das Perseidas. Clique para ver imagem no tamanho original.
Radiante das Perseidas
Impactos de Perseidas na Lua. Clique para ver imagem no tamanho original.
Impactos de Perseidas na Lua

Ainda ecos das Perseidas: vídeo e som.

Quão mais belos são os seus silvos do que os dos projécteis mortíferos...

quinta-feira, agosto 19, 2004

Boas notícias

Cientistas anunciam novo medicamento contra a malária

Teletransporte - novo recorde fora de laboratório

Via Láctea é uma das galáxias mais velhas do Universo

DNA technique protects against 'evil' emails

Prize draw uses heat for random numbers

Os teoremas de Ehrenfest

Os teoremas de Ehrenfest são quase como o binómio de Newton segundo Fernando Pessoa. São eles que recuperam a física newtoniana para sistemas macroscópicos, no quadro da Mecânica Quântica. Nota-se que há quem se aventure a falar sobre mecânica quântica sem os conhecer... (Há novas ligações ao lado, para os dois famosos textos de Sokal.)

O gato de Schrödinger

Gato (M.C. Escher)
(M.C. Escher)


De vez em quando, vinha ter ao anfiteatro um gato, saído talvez do jardim. Inevitavelmente, deram-lhe o nome de Schrödinger. Às vezes, deixava de aparecer durante dias, e não sabíamos se ainda estaria vivo.

(A Natureza é uma sedutora!...)

quarta-feira, agosto 18, 2004

Pop-web-art

A WWW nasceu no CERN, em 1989, pela mão de Tim Berners-Lee, para partilha de informação.

Agora, as ferramentas da WWW servem para exercícios de uma espécie de pop-art: BLPR. Clique!

Por que é que o céu é azul?


Na idade dos porquês


Professor diz-me       porquê?
Por que voa o papagaio
que solto no ar
que vejo voar
tão alto no vento
que o meu pensamento
não pode alcançar?

Professor diz-me       porquê?
Por que roda o meu pião?
Ele não tem nenhuma roda
E roda       gira       rodopia
e cai morto no chão...

Tenho nove anos       professor
e há tanto mistério à minha roda
que eu queria desvendar!
Por que é que o céu é azul?
Por que é que marulha o mar?
Porquê?
Tanto porquê que eu queria saber!
E tu que não me queres responder!

Tu falas falas       professor
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa.
Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar.
Obrigas-me a dizer
quando eu quero escutar.
Se eu vou a descobrir
Fazes-me decorar.

É a luta       professor
a luta em vez de amor.

Eu sou uma criança.
Tu és mais alto
mais forte
mais poderoso.
E a minha lança
quebra-se de encontro à tua muralha.

Mas
enquanto a tua voz zangada ralha
tu sabes       professor
eu fecho-me por dentro
faço uma cara resignada
e finjo
finjo que não penso em nada.

Mas penso.
Penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar.
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar!...

E quando tu depois vens definir
o que são conjunções
e preposições...
quando me fazes repetir
que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas
tanta mais definições...
o meu coração
o meu coração que não sei como é feito
nem quero saber
cresce
cresce dentro do peito
a querer saltar cá para fora
professor
a ver se tu assim compreenderias
e me farias
mais belos os dias.


Alice Gomes (1946)

terça-feira, agosto 17, 2004

Reflexões sobre a educação

Formigas Vermelhas - Escher
M.C. Escher

De Maria de Fátima Bonifácio, no Público, com reacções no editorial de José Manuel Fernandes, e de Rui Tavares, no Barnabé.

E José Flávio Pimentel Teixeira, no Ma-Schamba.

Duas notícias

Duas novas luas de Saturno descobertas pela sonda Cassini-Huygens

(Há 117 anos, Asaph Hall descobria a lua Fobos de Marte.)

Empresa transforma cinzas de humanos cremados em diamantes

Física e humor

Um delírio de Woody Allen sobre Física.

Pergunta retórica: haveria algum humorista português capaz de escrever aquilo?

Sugestão

Júpiter. Clique para ver imagem no tamanho normal.

Sugestão para fundo do ambiente de trabalho. Pode ser o senhor do mundo, pai de deuses e heróis, mas a mim parece-me mais a ideia que tinha, nas aulas de francês do liceu, do que seria o café-crème...

segunda-feira, agosto 16, 2004

A Física hoje

Há duas semanas, no programa "4 x Ciência", Alexandre Quintanilha explicava à apresentadora do programa que tinha trocado a física pela biologia porque, perguntava ele, "o que é que se pode fazer hoje em física"? Considero as intervenções públicas de Alexandre Quintanilha sempre originais e interessantes, mas não consigo esquecer aquela frase, qual pedra no sapato.

Pergunto: então não foi de há 20 anos para cá que se descobriram 2 dos 6 estados da matéria conhecidos (sólido, líquido, gasoso, plasma, condensado de Bose-Einstein, plasma de quarks e gluões)? Não é fascinante que o último só tenha existido no início do universo e agora no CERN?

Então a pesquisa sobre a fusão nuclear controlada não terá consequências importantes para a humanidade? Mais uma vez, um feito notável, porque são reacções que antes só aconteciam, de forma regular, na região central das estrelas.

E há muitas outras áreas da física que continuam fervilhantes. (Ver, por exemplo, aqui.)

Aquela opinião passou na televisão, sem réplica. E "quem não se sente"... Desculpem o desabafo.

O Diamante Português

Diamante Português

Em Washington, no Museu de História Natural da Smithsonian Institution, está exposto um dos maiores diamante do mundo: o Diamante Português, com 127,01 quilates.

Submetido a radiação ultravioleta, o Diamante Português apresenta um forte brilho azul. Este fenómeno, chamado fluorescência [1, 2, 3], é comum a muitos diamantes. Mas o Diamante Português têm uma fluorescência tão intensa que é possível ver um matiz azul difuso mesmo quando é iluminado apenas com luz natural.

Diamante Português com fluorescência

O poder do espírito

To see a world in a grain of sand,
and heaven in a wild flower:
Hold infinity on the palm of your hand,
and eternity in an hour.

William Blake (1757 - 1827)

domingo, agosto 15, 2004

O leite de Hera

Via Láctea. Clique para ler explicação

Ora, o tempo está magnífico. O ar é calmo, transparente e fresco. A noite é escura, mas vê-se a aldeia toda com os seus telhados brancos e as volutas de fumo a erguerem-se das chaminés, as árvores prateadas de sincelo, os montes de neve. Todo o céu está juncado de estrelas piscando alegremente, e a Via Láctea distingue-se com tanta nitidez como se tivesse sido lavada e esfregada com neve antes das festas...

(Anton Tchékhov, in "Vanka", do livro "Contos", Vol. I, Relógio D'Água Editores, 2001)

Todos precisamos sempre da Ciência, hoje a Ciência precisa de nós

Mariano Gago hoje no Público.

sábado, agosto 14, 2004

Auroras de Saturno

clique para ler explicação

Ficheiros secretos (cont.)

Mais desenvolvimentos sobre os extra-terrestres em Tunguska, no Público.

É sabido que os russos são muito crédulos, no que toca a fenómenos de pseudo-ciência; por isso, é natural que aconteçam destas coisas...

Um átomo a mais que se animou?


José Régio
José Régio (1901 - 1969)


Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.

José Régio, Poemas de Deus e do Diabo (1925)

sexta-feira, agosto 13, 2004

Em sexta-feira, 13

Alquimia e Misticismo
"O Museu Hermético - Alquimia & Misticismo",
Alexander Roob, Taschen, 2001

"Uma viagem fantástica através do mundo das imagens da alquimia e da mística, da cabala e da magia, da maçonaria e dos Rosa-Cruz. Esta compilação única da arte ilustrativa com os seus comentários e textos de origem leva-nos por caminhos maravilhosos através das demonstrações das ciências ocultas." (sinopse, na contra-capa)

Até onde pode chegar a fantasia da Humanidade... Um livro interessante e bonito, à sua maneira.

O princípio de incerteza


O Princípio de Incerteza - René Magritte (fonte: http://xoomer.virgilio.it/mathontheweb/immagini/magritte/il%20principio%20d'incertezza.jpg)
"O Princípio de Incerteza", René Magritte


princípio de incerteza
Princípio de Incerteza de Heisenberg

quinta-feira, agosto 12, 2004

Alka-Seltzer

bolhas


Se tem crianças para entreter num dia chuvoso de Agosto (talvez uma dentro de si...), pode tentar fazer estas experiências simples com pastilhas de Alka-Seltzer. Percebem-se os conceitos básicos de cinética química, que são explicados depois, algures no ensino secundário.

Se não tem um cronómetro ou um relógio com essa função, pode improvisar um. Antigamente, usava-se o pulso - pouco preciso, é certo... Mas lembre-se das ampulhetas e das clepsidras, e inspire-se... (Galileu, por exemplo, usou recipientes que iam sendo cheios com água a uma taxa constante, para medir tempos.) Ou, então, use o ponteiro dos segundos, mas tem que ter atenção.

Depois das experiências... boas digestões!

Ficheiros secretos e admirável mundo novo...

Cientistas russos dizem que encontraram destroços de nave extra-terrestre

Macacos transformados em escravos do trabalho

Erasmus nacional no próximo ano lectivo

"O programa Erasmus nacional, que vai permitir a mobilidade interna dos estudantes do ensino superior, arranca no segundo semestre do próximo ano lectivo. O anúncio foi feito anteontem pela ministra da tutela, Maria da Graça Carvalho. 'O projecto foi entregue a Bruxelas no final de Julho, ainda no XV Governo, e as negociações estão bem encaminhadas. Em princípio, será aprovado em Setembro e lançado em Outubro. A mobilidade deverá iniciar-se no segundo semestre do ano lectivo 2004/05', afirmou a ministra, citada pela Lusa. Esta vertente nacional do programa comunitário Erasmus vai permitir que os alunos possam fazer entre um e dois semestres noutro estabelecimento de ensino superior do país." [Público, 2004/08/12]

Les Promenades d'Euclide

Les Promenades d'Euclide

Les Promenades d'Euclide - René Magritte

Postulado 1
(É possível) desenhar uma linha recta de qualquer ponto para qualquer ponto.

Postulado 2
(É possível) produzir uma linha recta finita continuamente numa linha recta.

Postulado 3
(É possível) descrever um círculo com qualquer raio e centro.

Postulado 4
Todos os ângulos rectos são iguais.

Postulado 5
Se uma linha recta, encontrando-se com outras duas linhas rectas, fizer os ângulos internos da mesma parte menores que dois ângulos rectos, então estas duas rectas, produzidas indefinidamente, encontrar-se-ão no lado no qual os ângulos são menores que dois ângulos rectos.

("Elementos", Euclides)

quarta-feira, agosto 11, 2004

O livro da natureza


clique para ver mais cristais

“(O Livro da Natureza) está escrito na linguagem matemática, e os seus caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas, sem os quais é humanamente impossível perceber uma só palavra; sem eles, vagueamos num escuro labirinto” - Galileu Galilei

Duas boas notícias para a ecologia

Carro solar mais rápido do mundo vai percorrer Suécia e Noruega em 8 dias

Inventado vidro "inteligente" que não deixa passar calor

terça-feira, agosto 10, 2004

O Zodíaco actualizado

zodíaco actualizado

O diagrama representa os signos (constelações do Zodíaco) e as datas em que o Sol os atravessa. Estas datas vão mudando ao longo dos tempos devido à precessão dos equinócios. Os astrólogos de hoje em dia estão muito, mas muito desactualizados... ;)

Fonte: "0 Meu Primeiro Livro de Astronomia", Gradiva (via Read Ciências, U. Coimbra).

Hansel e Gretel

clique para ver mais pedrinhas

E puseram-se todos a caminho do bosque. Tinham já andado um bocadito quando Hansel se virou para trás olhando para casa e foi repetindo esta artimanha várias vezes. Disse-lhe o pai: «Oh Hansel, o que é que estás para aí a espreitar e a ficar para trás? Toma atenção e vê lá se não te esqueces das pernas. - Oh pai! disse-lhe Hansel, estou a olhar para o meu gatinho branco, está empoleirado no telhado e quer dizer-me adeus.» A mulher disse: «Tonto, não vês que não é o teu gatinho, mas o sol da manhazinha que brilha na chaminé?» Mas quando Hansel se virava para trás não era para olhar o gato, mas sim para ir lançando no caminho as pedrinhas brancas que tinha no bolso. (...)

Quando, por fim, acordaram, já era noite escura. Gretel começou a chorar e disse: «E agora, como é que vamos conseguir sair do bosque?» Mas Hansel consolou-a: «Espera só até a Lua se levantar, porque nessa altura vamos conseguir encontrar o caminho.» E quando a Lua cheia apareceu Hansel pegou na irmã pela mão e seguiu as pedras que brilhavam como moedas acabadas de cunhar, mostrando-lhes o caminho.

("Contos de Grimm", Jacob e Wilhelm Grimm; escolha, tradução e prefácio de Graça Vilhena; Relógio de Água Editores)

segunda-feira, agosto 09, 2004

Regresso

coração com ondas espirais

A imagem é a de um coração percorrido por ondas electromagnéticas que formam uma espiral e interferem com o batimento cardíaco normal. É a chamada fibrilação. Recentemente, foram feitas simulações de um segmento de tecido cardíaco que sugerem que bastam pequenas diferenças de potencial (muito menores do que as actualmente usadas) aplicadas ao coração para destruir estas ondas nefastas. [Notícia completa]

Uma aplicação da física à economia...

Blasfemos! :-)

O gozo da descoberta

clique para explicação da demonstração (fonte: http://jwilson.coe.uga.edu/EMT668/EMT668.Student.Folders/HeadAngela/essay1/image1.gif)
a2+b2=c2

Diz a lenda que Pitágoras ofereceu cem bois em sacrifício quando descobriu a demonstração do teorema que tem o seu nome. Eu ofereceria duzentos.

domingo, agosto 08, 2004

Os que se ocupam das ciências

"Os que se ocupam das ciências começam a estudá-las pelo que têm de útil, principiam a amá-las quando compreendem o que têm de belo, e apaixonam-se por elas quando sobem assaz alto para abranger o que têm de sublime" - Gomes Teixeira

O binómio de Newton


O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
óóóó---óóóóóóóóó---óóóóóóóóóóóóóó

(O vento lá fora).


Álvaro de Campos

Vénus de Milo

binómio de Newton

Livre arbítrio e questões difíceis para a ciência


A Sobrevivência dos Mais Belos

A Falsa Medida do Homem (fonte: http://www.byblos.pt/Byblos_assets/product_images/9895520557.jpg)


Quando, há menos de um mês, António Damásio terminou a sua palestra intitulada "A Biologia das Emoções", na Fundação Calouste Gulbenkian, perante uma audiência de muitas centenas de pessoas, seguiram-se algumas velhas perguntas. Uma, por exemplo, sobre o livre arbítrio. Damásio ia respondendo tendo por base o que a ciência tinha descoberto nos últimos tempos. Depois, um estudante do ensino secundário fez uma pergunta derivada: "já se está perto de saber por que é que gostamos de umas pessoas e não de outras?". Damásio respondeu, sorrindo: "Há coisas que é melhor ficarem como estão, que é melhor não sabermos".

Ora, há quem não pense assim e "chame os bois pelos nomes". Ou, pelo menos, tente. Perde-se romantismo? Não seria também a "alma" um tema tabu quando a psicologia começou a florescer? E quem estuda psicologia fica impedido de viver uma vida psicológica como qualquer outro mortal? Parece-me que não.

Quem não evitou falar de um tema difícil que tinha sido negligenciado pela ciência durante décadas foi Nancy Etcoff, autora de "A Sobrevivência dos Mais Belos" (Editora Replicação, 2001), para quem a procura da beleza não é uma construção cultural e pode ser explicada de forma científica.

Por outro lado, há quem se aproveite da ciência para proclamar as suas ideias preconceituosas. Foi contra essas pessoas que Stephen Jay Gould escreveu "A Falsa Medida do Homem" (Quasi Edições, 2004), onde é analisado, por exemplo, o polémico "A Curva de Bell", que associava distribuições gaussianas de medidas da inteligência a desvios padrão diferentes para diferentes raças.

Será, então, que preferimos permanecer na ignorância?

sábado, agosto 07, 2004

Física moderna no Museu da Água

aparelho no Museu da Água
Aparelho para medir a transparência da água através do efeito fotoeléctrico, no Museu da Água (Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos)

A mais bela

O professor acabou de a escrever no quadro. Afastou-se, na direcção da assistência do anfiteatro, mas ainda a olhar para ela. (Desta vez, não atirou o giz para o seu suporte, de costas, em parábola certeira, como costumava fazer no fim de algumas demonstrações.) Então, disse-nos: esta é talvez a mais bela equação da Matemática, porque relaciona as cinco constantes fundamentais. E, em silêncio, todos a admirámos:

Euler

Genocídios

Hans Bethe, Felix Bloch, Niels Bohr, Max Born, Albert Einstein, Richard Feynman, James Franck, Murray Gell-Mann, Heinrich Hertz, Carl G. J. Jacobi, Lev Landau, Fritz London, Lise Meitner, Albert A. Michelson, John von Neumann, J. Robert Oppenheimer, Wolfgang Pauli, Sir Rudolf Peierls, I. I. Rabi, Carl Sagan, Julian Schwinger, Otto Stern, Steven Weinberg, Eugene Wigner, Edward Witten. E tantos outros...

A História da Física conta com muitos judeus e descendentes de judeus. Por isso, a palavra genocídio é duplamente sentida.

Informação sobre Darfur, actualizada regularmente:
Amnesty International - Sudan Crisis
Darfur Infomation Center

O Pêndulo de Foucault

pêndulo de Foucault


Já foi tema de história de mistério em "O Pêndulo de Foucault", de Umberto Eco; já foi motivo de confronto entre ciência e religião em "Contacto", de Carl Sagan...

E, no entanto, em 2004, 35 anos depois da chegada do Homem à Lua, ainda há quem não acredite que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário, e que a Terra gira em torno de si própria. Dúvida metódica, saudável, de quem, apesar da inteligência, não pôde ir à escola.

Por isso, procurei em manuais universitários uma explicação intuitiva (sem recurso à força de Coriolis) do comportamento do pêndulo de Foucault. Em vão. Só o sacrossanto Goldstein (para os não "iniciados": "Classical Mechanics", de Herbert Goldstein, Adison-Wesley Publishing Company) relega o problema para o último exercício de um capítulo...

Na internet, também não tive muita sorte. Até encontrar o artigo do Prof. Augusto Barroso, na revista "Comunicar Ciência" de Setembro/Outubro de 1999 (página 2).

Afinal, é simples: basta pensar que a velocidade (linear) é maior mais perto do equador, e lembrarmo-nos da inércia. Nos pólos, o plano de oscilação roda 360º por dia e no equador não roda. Para latitudes intermédias, com alguns cálculos simples, obtém-se:

- o ângulo de rotação (em graus) do plano de oscilação em 24 horas:

N = 360º sin(Ø)          em que Ø é a latitude do lugar

- a latitude de um lugar, já que o período de rotação do pêndulo de Foucault é:

T = 24 horas / sin(Ø)

Nota: em Lisboa, há um belo pêndulo de Foucault no átrio do Museu de Ciência, na Rua da Escola Politécnica.

sexta-feira, agosto 06, 2004

Hiroshima: 59 anos


Janela com ferros partidos. Clique para ler explicação.

A loucura passou por aqui.



Pedras tumulares de vítimas desconhecidas no Templo Mikati. Clique para ler explicação.


Pedras tumulares de vítimas desconhecidas no Templo Mikati

Prémio Mundial de Engenharia para português

Parabéns!

Patience dans l'azur

Ces jours qui te semblent vides
Et perdus pour l'univers
Ont des racines avides
Qui travaillent les déserts
[...]
Patient, patience,
Patience dans l'azur!
Chaque atome de silence
Est la chance d'un fruit mûr!
[...]

Paul Valéry

quinta-feira, agosto 05, 2004

Rosa azul

rosa azul

Pensei que a rosa azul fosse uma quimera. Mas, há dias, a ciência trouxe uma esperança. Com engenharia genética, conseguiu-se uma rosa de um azul muito ténue, quase imperceptível. Talvez um dia veja ainda a tal rosa nitidamente azul...

quarta-feira, agosto 04, 2004

Reflexo do céu num charco

reflexo do céu num charco

Escher, porque sim.


 

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